[Resenha] Memórias do Livro, de Geraldine Brooks

Oi, meu povo. Preparem-se que hoje teremos a resenha de um livro que mexeu muito comigo. Espero que gostem! Ficou um pouco longa, mas eu só peço um pouco de paciência. O livro merece!


- Ficha técnica
Título original: People of the Book
País de origem: Austrália
Autor(a): Geraldine Brooks
Editora: Ediouro
Ano: 2008
Número de páginas: 284
Leia a sinopse do livro aqui.
Confira o site lindo do livro aqui.
[As imagens mostradas nesse post são da verdadeira Hagadá de Saravejo]



Logo no começo da história, somos apresentados a Hanna Heath, uma especialista em restauração de livros antigos, que à primeira vista pode ser confundida com uma protagonista, mas as coisas não são bem assim. Hannah pode até ser considerada uma protagonista pelo volume de aparições que tem no livro, mas de forma alguma é uma protagonista ordinária. A figura central dessa obra não é uma pessoa, é um livro.

Um dia, quando está na sua casa, na Austrália, Hanna é convidada a trabalhar na restauração de um livro extremamente antigo e valioso, que estava perdido havia vários anos: a Hagadá de Sarajevo (que realmente existe). Para recuperar o volume, ela decide separar as páginas e encaderná-las novamente.

Durante esse processo, a moça encontra diversos materiais datados das mais diversas épocas, que contam a história não-conhecida do livro. Um pedaço da asa de uma borboleta, uma mancha de vinho, sal, um pelo branco...

Até aí vocês não entendem porque eu digo que a Hanna não é a personagem principal, mas eu explico: depois dessas descobertas intrigantes, a cientista resolve analisar as amostras de material encontradas, e é assim que nós somos levados a passear por histórias completamente diferentes – que não tem em comum nem tempo, nem lugar –, unidas apenas por um elemento: o livro.

A cientista não aparece em nenhuma dessas histórias, completamente autônomas entre si, e é por isso que a personagem permanece sumida dos nossos olhos a maior parte da trama. Apesar de nas outras partes nós acompanharmos melhor vários acontecimentos de sua vida.

Eu demorei a me animar a pegar esse livro para ler, mas quando peguei a coisa fluiu extremamente rápido. Achei a premissa central fantástica e não foi à toa que ele ganhou um Pulitzer de Ficção.

A narrativa varia entre a primeira pessoa e a terceira, mas é maravilhosa em todos os momentos. O livro é extremamente bem escrito, mas peca, infelizmente, pelo excesso de vírgulas. Essa questão tornou a leitura cansativa em muitos pontos, e quase me fez explodir de raiva em alguns momentos.

Achei a história muito bem desenvolvida do começo ao fim, além de extremamente envolvente. Ela se foca apenas nos aspectos centrais (a não ser quando voltamos para Hanna, quando a autora se permite distanciar mais do tema central), de forma que a gente nunca se perde, apesar da mudança constante na história. Na verdade, é como se fossem diversos livros em um só.

É interessante também como somos levados a percorrer de forma discreta os temas delicados da perseguição do povo judeu por diversos períodos da história do mundo (passando pela inquisição e pelo nazismo) e da tolerância religiosa. Dois temas tão opostos que são tratados da forma mais estreita que eu já tive a oportunidade de ver em qualquer livro.

Além disso, o livro consegue te surpreender diversas vezes com viradas completamente inesperadas nas histórias.

Um ponto negativo, na minha opinião, é que os “sub livros” são escritos de uma tacada só, como se fossem um só capítulo. Considerando que algumas das histórias são longas, senti falta de uma divisão que desse ao leitor uma chance para respirar e desanuviar a cabeça, o que inclusive ajudaria a aproveitar mais a leitura.

Todos os personagens me agradaram. Obviamente senti raiva de alguns em alguns pontos, mas foi aquela raiva ligada aos acontecimentos da história, e não a raiva que dá quando você não consegue acreditar na personalidade que o(a) autor(a) construiu.

Considerando que eu tenho uma certa tendência a não gostar (em maior ou menor escala) das personagens principais femininas, a Hanna conseguiu ser uma exceção a essa regra. Não é o tipo de personagem de livro que é construído para agradar a todos e causar identificação geral, mas gostei dela.

Os personagens secundários também têm, sem exceção, personalidades muito bem construídas e consistentes, o que deixou claro para mim o cuidado da autora no planejamento do livro e na criação de cada um dos personagens.

O livro tem muitos personagens (todos relevantes), o que é necessário por causa de todas as histórias independentes, mas isso não se tornou incômodo para mim em nenhum momento, nem atrapalhou o andamento da história, uma vez que todos eles tinham um “habitat” específico e extremamente restrito.

Por fim, a capa é simples e sofisticada. Tem ligação com a história, ainda que relativamente tênue, sem dar pistas sobre o enredo. Me agradou bastante, assim como a edição (apesar do problema das vírgulas que eu apontei no começo). Gostei da forma com que cada “parte” (“sub-livro”) é dividido dos demais, formando uma espécie de livro independente dentro do mesmo livro.

Levados em conta todos os elementos acima, tenho que dizer que gostei muito do livro. Com as devidas ressalvas, indico sem medo para qualquer um. É um livro maduro, seco e profundo que certamente merece ser lido e apreciado.

No fim das contas, só fiquei (e estou até agora) intrigada com um detalhe, que não mencionarei aqui porque beira o spoiler e também porque não quer influenciar ninguém. Mas se alguém aí já tiver livro, por favor fale comigo para podermos discutir isso juntos.


Vocês podem ver o book trailer desse livro aqui:



Conheçam a opinião de outros blogueiros sobre esse livro aqui e aqui.


2 comentários:

  1. Enredo super interessante e o booktrailer tb é legal. Fiquei curiosa pelo livro, pq realmente um livro tem toda uma história, não é? Principalmente se for um livro que já passou pela mão de diversos donos. Muito bom, irei ler se tiver oportunidade.

    Bjs,
    Kel
    www.itcultura.com.br

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  2. Nossa, achei interessante demais a resenha, o livro deve ser ótimo.
    Minha lista, que já é imensa, vai ficando maior.
    Beijo!

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