[Resenha] A Casa das Sete Mulheres, Letícia Wierchowski

Quando eu tinha 11 aninhos de idade, a Globo lançou a minissérie A Casa das Sete Mulheres, adaptação do nosso livro resenhado da semana, e eu lembro de ficar acordada até bem tarde (para os meus padrões), enquanto meus pais dormiam, só para poder assistir.

Em algum momento durante esse período foi que eu descobri que aquela história que eu gostava tanto tinha sido baseada em um livro, e nesse mesmo momento foi que surgiu meu desejo de ler esse livro. Exatamente dez anos depois, eu finalmente consegui, e chegou a hora de falar sobre ele.

A Casa das Sete Mulheres é um romance histórico da escritora gaúcha Letícia Wierchowski (que nós já conhecemos aqui) publicado no ano de 2002 pela Editora Record.

O livro conta a história de sete mulheres, parentas de Bento Gonçalves (grande figura da Revolução Farroupilha) que ficam reunidas em uma casa de campo enquanto os homens da família lutam contra o império em busca da independência da república Rio-Grandense.

A trama do livro cobre um período de tempo extremamente longo (de 1835 a 1845) e reveza entre a narração em terceira pessoa, que compõe a maior parte do livro, e trechos em primeira pessoa "retirados" dos cadernos de Manuela, personagem do livro e sobrinha de Bento Gonçalves (nota que na minissérie Manuela, Rosário e Mariana - se eu bem me lembro - são filhas desse general).

A escrita da autora é ótima, muito envolvente e clara (apesar do palavreado mais antigo e regional empregado, principalmente nas falas dos personagens), e transmite perfeitamente a sensação de lentidão e marasmo que certamente se insinuava pela vida de sete mulheres obrigadas a ficar presas em uma fazenda distante de tudo por tanto tempo.

Sou amante eterna de romances históricos, em especial aqueles que retratam períodos e personagens reais da história, e achei a premissa muito boa. Histórias de guerra, propriamente ditas, temos por aí aos montes; mas a Letícia nos dá um ponto de vista completamente novo disso tudo, e os esparsos vislumbres que ela nos dá da batalha propriamente dita são repletos de poesia.

Não faz muito tempo li um texto no blog da Tay sobre leituras literárias (recomendo), e isso com certeza me ajudou a entender uma parte da profundidade dessa obra: ela não se resume aos acontecimentos narrados, mas consiste em uma obra de arte em se mesma, como se pintasse um quadro com palavras. Não é à toa que foi traduzida para seis países. Fiquei muito curiosa para saber se isso é algo recorrente nos livros da autora ou se é um caso à parte.

Todos os personagens, até os mais simples, são bem construídos, bem explorados, e conseguem manter perfeita coerência ao longo de todas as 543 páginas do livro. Além da Manoela, que tem bastante destaque, gostei demais da força da D. Ana e da D. Antônia, irmãs de Bento Gonçalves, que são exemplos de integridade e força, superando todos os grandes baques da guerra e conseguindo manter a sanidade de (quase) todas as mulheres da casa, apesar dos pesares.

A Casa das Sete Mulheres certamente é um livro que me marcou demais e, apesar de eu ter lido emprestado, planejo comprar um volume para mim, porque planejo reler em uma época oportuna. Estou também com bastante vontade de ler as outras obras da Letícia Wierchowski, em especial Um Farol no Pampa, sequência desse livro que conta mais uma saga dos nossos personagens queridos, dessa vez durante a Guerra do Paraguai.

P.S: A maioria dos links desse post direciona para páginas com informações reais (históricas) sobre as pessoas que inspiraram os personagens do livro. Se você já leu o livro ou viu a série e se interessa por esse assunto, recomendo a leitura.

Título original: A Casa das Sete Mulheres

Autora: Letícia Wierchowski

País de origem: Brasil

Editora: Record (Bestbolso)

Ano (da primeira publicação): 2002

Páginas: 543

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