[Dica da Blogueira]: Diferença entre resenha literária e resumo

Ontem foi dia de post aleatório e, como vocês podem ver, eu me atrasei. Pensei em postar hoje com a data de ontem para não ficar tão feio, mas achei que seria uma forma idiota de enganar a vocês e a mim e transformar esse fato em algo maior do que realmente é. 

Como não vou negar agora minha desculpite crônica, explico que, depois de toda a agitação de bienal (e correria com camisas, marcadores e tudo o mais que vem acoplado), eu parei para ler dois livros de fantasia brasileiros (um, A Herdeira do Mar, cuja resenha vocês vão conferir aqui quinta-feira, e outro, Saga Draconiana – Sophie Dupont e o Drakkar de Prata, que vai pintar já na outra semana – se quiserem ficar ligados em todas as minhas leituras, podem me adicionar no skoob).

Se essa explicação não fez sentido para vocês, eu dou outra: eu tenho um transtorno psicológico muito sério que impede que eu largue livros de fantasia antes de chegar ao final. Não é brincadeira, não – não consigo comer, não consigo dormir, não consigo conviver com a sociedade como uma pessoa normal.

E agora, antes que resolvam me internar junto com a minha xará da novela das 21h, vamos começar a falar de coisas sérias: hoje é dia de Dica da Blogueira.


Vocês podem achar que eu sou uma Maria-ninguém que se acha no direito de vir aqui tratar desse assunto – eu também achei, mas resolvi vir falar mesmo assim. Não interessa que eu seja relativamente uma novata nesse mundo blogueiro literário, o que importa é que eu tenho olhos para ver e dedico bastante tempo da minha vida pesquisando e estudando (não só para a faculdade), então me sinto totalmente no direito de desabafar o que vim aqui desabafar: muita gente ainda não sabe a diferença entre uma resenha e um resumo.

Ninguém nasce sabendo nem é obrigado a saber, mas eu sou da opinião de que se uma pessoa se presta a fazer uma coisa que interfira na esfera de qualquer um que não seja ela própria, mesmo que como hobby, precisa ser humilde o suficiente para estudar (mesmo achando que já sabe tudo sobre determinado tema) e buscar o melhor resultado possível.

Me enerva profundamente quando visito um blog e escolho uma resenha para ler (são sempre minhas partes favoritas) e me deparo com – nada mais, nada menos que – um resumo mais ou menos detalhado de todos os acontecimentos do livro. Felizmente ainda não inventaram um jeito de sumir com o xizinho no canto da tela e é para lá que eu corro com toda a alegria. Eu sei que não estou sozinha nessa; então se você faz isso e está determinado a continuar fazendo, seja feliz, mas saiba que você também perde algo com isso.

A internet está cheia de textos do tipo desse aqui, eu mesma já li e reli vários, porque um lembrete nunca é demais; mas como a saga sempre continua, achei que seria bom abrir um espacinho na programação para um pouco de utilidade pública. Se você está de saco cheio e me xingando mentalmente, pode ir fazer outra coisa e volta na quinta que teremos resenha. E agora vamos ao ponto central:

Resumo é a exposição dos acontecimentos de uma história de forma enxuta. Resumir é simplesmente elencar os pontos mais relevantes de uma história para dar ao leitor uma ideia da trama. Não tem opinião expressa de quem escreve e não analisa nada.
Resenha é de fato a análise crítica de um texto. Normalmente começa com um resumo (quanto mais resumido, melhor – questão de linhas), mas 90% do texto simplesmente comenta a história, ao invés de contá-la. Expressa a opinião do autor (da resenha, não do texto resenhado) e apresenta o julgamento dele sobre os mais diversos pontos da obra (escrita do autor, foco narrativo, desenvolvimento da história, personagens e o que sua imaginação permitir).

Uma suposta resenha de ~digamos~ 30 linhas em que 20 ou 25 sejam dedicadas a “apresentar a história ao leitor” não se qualifica como resenha só porque nas últimas 5 linhas o autor cospe uma “opinião” superficial. Desculpa estragar seus sonhos, mas não é assim que funciona.

A base de uma resenha deve ser a opinião do resenhista sobre o livro resenhado, e não o livro em si. Quem quer ler o livro vai ler o livro, mas quem vai ler a resenha quer saber as suas impressões. Uma pessoa que não sabe analisar e/ou não tem uma opinião própria mais refinada do que “amei” ou “odiei” não está apto a resenhar. Mas resumir qualquer um que saiba ler consegue.

Não vou dizer que ler com o senso crítico ligadão é uma coisa fácil. É uma arte que eu estou desenvolvendo a cada dia. Não conheço ninguém que tenha nascido assim e, se você nasceu, é um sortudo. É um aprendizado constante e dá trabalho (muito!), mas se você quer fazer algo com a leitura além de se deliciar com as histórias (o que já é muito bom, garanto) tem que aprender.

Cada um resenha de uma forma (graças a deus) e simplesmente não dá para impor uma “receita” de como fazer uma resenha. É algo muito pessoal, tanto na hora de ler, quanto de escrever. Mas uma coisa é certa e imutável: resenha é resenha, resumo é resumo. Um resumo não será nunca uma resenha, e vice versa.

2 comentários:

  1. Paloma, excelente post! Já percebi esse problema em vários blog também, o que é uma pena...

    Abraços, Isabela.
    www.universodosleitores.com

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  2. Oie!

    Achei seu post super relevante. Tem MUITO blog literário que posta sinopse do livro e lança a sinopse novamente com as 'próprias palavras', e disso a web tá cheia. Acho que, infelizmente, tem muito disso na escola. Professor pede resenha do livro X e se contenta com RESUMO da obra, sem avaliar olhar crítico em cima disso. Já vem dali, sabe.

    Gostei do post e das dicas. E achei legal vc se posicionar, mesmo 'que seja nova por aqui'. Ser nova ou não não importa. O que importa é ter o olhar pra perceber os movimentos.

    Beijo!!!!

    Raquel
    www.pipocamusical.com.br

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